Seu Fred era o tipo de homem que todos descreviam com a seguinte frase: "é trabalhador honesto". Alguns ainda acrescentavam o quão trabalhador ou o quão honesto ele era para intensificar o que todos achavam ser algo maravilhoso, mesmo que não quisessem para si.
Trabalhar demais e ser honesto demais são características valorizadas nos outros -mas só nos outros e de longe - já que maioria quer fugir do peso que essas coisas trazem e argumentam dizendo que o excesso faz mal, que é necessário tempo para aproveitar a vida e que no país que estamos honestidade não resolve alguns problemas. Seu Fred não pensava assim. Ele nem se quer pensara em como seria não ser assim, simplesmente nascera dessa forma e nunca mudou. Sua crença era que só dessa forma poderia salvar o futuro das únicas pessoas que realmente amava: Mariane e Cláudio, seus filhos.
Amor nunca foi o forte de Seu Fred, tinha coração de rocha, seus vizinhos mais próximos diziam que nunca se apaixonou de verdade por Seu Ninguém e sempre preferiu ficar sozinho até engravidar uma moça que ninguém sabe de onde veio nem para onde foi. Seus filhos, criados somente por ele, eram o que faziam Seu Fred acordar de madrugada e trabalhar exaustivamente como vigilante diurno e noturno.
A casa era humilde, mas Mari e Cláudio sempre estudaram nas melhores escolas, não importava quantas noites de sono Seu Fred deveria perder para poder pagar. E sempre se vestiam bem também. Menos Seu Fred que tinha apenas um par de sapatos furados e duas calças jeans já desbotadas e velhas que ganhara de um vizinho que engordou e não pode usá-las mais.
Todos na vizinhança o admiravam, mas se perguntavam se ele já fora feliz em algum momento de sua vida. Não que ele fosse um homem amargo, mas era muito quieto, um perfeito homem-de-poucas-palavras. Só ouviam sua voz de manhã quando ele acenava e dava bom dia para os que cruzavam com ele em seu caminho de trabalho ou quando estava com seus filhos.
Seu Fred acumulava rugas no rosto que mostravam que a vida nunca havia sido fácil, mas que diariamente ele a enfrentava apenas para poder ver aqueles seres chamados de filhos felizes. Era esse o seu lazer, recompensa, preço, valorização e reconhecimento. Quando Mari e Cláudio cresceram, se mudaram para uma cidade grande para estudar em uma universidade renomada. Seu Fred financiou tudo.
Alguns rumores dizem que a única vez que ele chorou foi nesse momento, já que os filhos saíram de casa. Há os que juram que foi por orgulho de ter cumprido seu tão suado objetivo. Há outros que têm certeza que foi de saudade antecipada. Os mais sábios dizem que foi por ambos os motivos. Não se sabe ao certo, a única informação concreta é que ele chorou.
Um mês depois Seu Fred bateu as botas. Foi dessa para melhor. Faleceu. Foi encontrar com Deus. Ou todos os outros eufemismos que se usam para a morte. Os mesmos motivos do choro foram usados como justificativas para o ataque de coração fulminante e repentino.
Hoje em dia, cinco anos depois de sua morte, com seus filhos já formados e bem sucedidos, Seu Fred é famoso por toda a redondeza, mas agora não é mais dono do título de "trabalhador honesto" como antigamente (embora nunca tenham conseguido um substituto páreo para sua honestidade e esforço), mas sim como "pai". Seu Fred viveu para ser pai. Morreu pai. E é lembrado como o melhor pai de todos os tempos. Mari e Cláudio se referem a ele como herói e dizem que nunca houve amor tão grande. Não há quem seja capaz de contestar.
HOMENAGEM A TODOS OS PAIS QUE, DE UMA FORMA OU DE OUTRA, TEM UM POUCO DE 'SEU FRED'.